Blog destinado ao estudo sobre as diversas identidades e culturas dos idosos. Como esses temas podem ser usados para construir ou desconstruir as novas e já existentes culturas da nossa sociedade? Disciplina: Identidade e Cultura. Professora: Andrea Paula. Discente: Sara Soares Pereira de Almeida. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC.
terça-feira, 19 de julho de 2011
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Flores de festas viram presentes para idosos
Arranjos usados para enfeitar grandes eventos e festas da alta sociedade paulistana agora são reciclados e depois encaminhados para instituições de idosos. A ideia é da florista Helena Lunardelli, de 37 anos, conhecida no meio pela criatividade e habilidade de fazer belos arranjos a partir de bases simples, como embalagens descartáveis e vasos antigos.
Mais do que reciclagem, o projeto, batizado de Flor Gentil, pretende levar um pouco de alegria e bem-estar a idosos que moram em instituições da cidade. "Estou montando uma espécie de Doutores da Alegria das flores", diz Helena. "Quando chegamos com os arranjos, distribuímos um a um, em mãos." As flores emocionam, aproximam e viram uma desculpa para uma visita mais longa de Helena e sua equipe, formada por um motorista e um ajudante.
A ideia nasceu em 2007, mas saiu do papel há três meses. Desde então Helena vem conquistando colaboradores, em geral floristas e decoradores, que assinam grandes eventos. "Eles conseguem a autorização dos donos dessas festas e então repassam as flores para o projeto", conta Helena. O decorador José Antonio de Castro Bernardes e as floristas Aparecida Helena Flores e Lucia Milan Daniela Toledo já aderiram. Até agora foram realizadas dez entregas em instituições públicas e particulares de idosos. A última foi na sexta-feira, no Recanto Monte Alegre, no Butantã, zona oeste, que abriga 51 homens e mulheres com mais de 70 anos.
Setecentas hastes de goivos, dálias e rosas saíram de uma festa numa mansão de uma tradicional família paulistana, realizada nos Jardins, zona sul, e seguiram para o ateliê da Bothanica, empresa parceira no projeto. Lá, as flores foram separadas e viraram 70 buquês nas mãos de oito voluntários antes de seguir para o Recanto.
"Principalmente os arranjos da cobertura montada no jardim iriam para o lixo", diz José Antonio de Castro Bernardes, decorador da festa. Num grande evento, organizado para uma média de 500 convidados, ele calcula que são usadas de 3 mil a 5 mil flores, que teriam ainda mais cinco dias de vida, em média.
Presa a uma cadeira de rodas desde que sofreu um derrame, há 15 anos, Wanda Guerra, de 76 anos, foi uma das mulheres presenteadas com um buquê coloridíssimo. Ela se mudou para a instituição no início do ano com o marido, Hector José Guerra, que dois meses depois morreu vítima das sequelas causadas pelo Alzheimer. "A flor é uma motivação para continuar minha luta. Ela é uma vitória da natureza", diz Wanda. Os homens e mesmo funcionários da instituição também foram presenteados.
Doações. "Não é todo mundo que lida bem com a terceira idade. Não são todos os idosos que contam com a visita constante dos familiares", diz Helena, que abriu seu projeto a quem quiser participar. Basta avisar o florista ou o decorador da festa que deseja doar as flores de seu evento para o Flor Gentil. " Com o tempo, os colaboradores também terão curiosidade de visitar as instituições."
Baile da Terceira Idade anima moradores e policiais da UPP Batam

Atualmente 120 mulheres, com idade a partir de 40 anos, fazem na sede da UPP aula de ginástica e hidro. Antes de iniciarem as atividades todas passaram por uma avaliação física feita por profissionais do SESI. O baile foi uma iniciativa dos policiais que trabalham com projetos na comunidade e todas as senhoras que praticam exercícios na UPP foram convidadas a participarem junto de seus acompanhates. Há pouco mais de um mês um grupo de dança foi criado na comunidade e batizado como “Jovens de Periferia”. Com 10 integrantes de 13 a 30 anos, fizeram sua primeira apresentação na noite da festa e agradaram a platéia.
Os policiais que estavam trabalhando na festa, estavam em seu dia de folga e foram voluntariamente ajudar a servir e organizar tudo. O tenente Juliano de Almeida, subcomandante da UPP Batam, ficou muito feliz com o resultado dos preparativos da festa e a presença da comunidade no baile na UPP. “Ver a sede da UPP toda enfeitada e com tantos moradores aqui confraternizando é muito gratificante, é a prova de que nosso trabalho está dando certo. Nós tentamos de acordo com as nossas possibilidades atender as solicitações da comunidade, o grupo de dança que se apresentou hoje era um pedido antigo e agora tivemos estrutura para poder proporcionar isso para eles. Essa integração com os moradores é fundamental para a realização do nosso trabalho.” Disse Juliano, informando ainda que pretende realizar outra edição do baile até o final do ano.
Dona Maria da Guia Torres, de 58 anos, moradora da comunidade há 36 anos. Agradeceu aos policiais pela melhora na qualidade de vida de todos que moram no Batam. “A gente tem mais liberdade, depois que a UPP veio pra cá acabou o nosso medo. Eu nunca imaginei que nossa vida poderia melhorar dessa forma, nunca pensei que pudéssemos viver bem assim e essa com tranqüilidade que temos hoje”, comentou a senhora que é aluna assídua das aulas de ginástica, hidro e caminhada promovidas pelos policiais. Francisca da Silva, de 68 anos, é da mesma turma que Maria da Guia e disse que além de praticar exercícios na UPP antes de cada aula o policial mede a pressão das alunas para saber se a saúde está em dia. “O médico já tinha me falado que eu precisava fazer exercícios, mas eu não podia pagar academia e agora malho de graça aqui na UPP. A gente requebra e faz atividades, os professores são muito bons.” Contou a senhora que já é aluna de hidroginástica há 1 ano e três meses.
Uma das pessoas mais animadas do baile era o sargento Marco Antônio Carvalho, que além de trabalhar na UPP é também morador da comunidade há 17 anos. “O meu sentimento é diferente de todos. Meu sonho era ver o Batam em paz, moro aqui e como policial era muito ruim ver a minha comunidade com tantos problemas de violência, ninguém se sentia seguro. Os moradores desconfiavam dos policiais e essa transformação me emociona muito. Hoje os moradores e os policiais criaram vínculos afetivos e de confiança, isso me deixa muito feliz.”, explicou o sargento.
Idosos e o exercício físico como afirmação da sua identidade
terça-feira, 31 de maio de 2011
Um pouco mais de significados...
As pessoas idosas têm habilidades regenerativas limitadas, mudanças físicas e emocionais que expõem a perigo a qualidade de vida dos idosos. Podendo levar à síndrome da fragilidade, conjunto de manifestações físicas e psicológicas de um idoso onde poderá desenvolver muitas doenças.
O estudo a respeito do processo de envelhecimento é chamado de gerontologia, e o estudo das doenças que afetam as pessoas idosas é chamado de geriatria.
Os direitos do idoso
Art. 10 § 2º O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, ideias e crenças, dos espaços e dos objetivos pessoais.
Profissão Reporter - Prostituta de 70 anos
A minha primeira reação ao ver esse vídeo foi rir, porque, na minha concepção, isso jamais seria possível acontecer. E esse vídeo me mostrou que aquela concepção vista no texto da última postagem, de que os idosos são carentes ou que sempre estão em casa vendo TV, mudou completamente. Isso mostra as diferentes identidades que podemos encontrar no mundo dos "velhinhos". Embora a prostituição seja algo que grande parte da população não concorda, essa é a identidade criada por essa senhora.
Identidade dos Idosos
ANDRÉA KRÜGER GONÇALVES - Doutora em Psicologia (Universidade de São Paulo, 1999), Mestre em Ciências da Motricidade (Universidade Estadual de São Paulo, 1996), Licenciada em Educação Física (Universidade Federal de Pelotas, 1994). Atualmente é professora adjunta na Universidade Luterana do Brasil no Campus Canoas-RS, atuando no mestrado em Saúde Coletiva na mesma universidade. Coordena, desde 2001, o Centro de Estudos de Atividade Física e Envelhecimento-CEAFE, o qual engloba programas comunitários de extensão e desenvolvimento de pesquisas. Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Envelhecimento e Atividade Física, além de Promoção de Saúde e Atividade Física.
A fase da terceira idade tem demandado uma maior atenção ao longo dos últimos anos, especialmente a partir da década de 90. A principal explicação para este interesse nas pessoas idosas, ou ainda aquelas que alcançaram a sexta década de vida, é o aumento da expectativa de vida e, conseqüentemente, o aumento do percentual deste grupo etário na população total. O convívio com pessoas de mais idade tornou-se cada vez mais comum na sociedade, passando a evidenciar características sociais antes não reconhecidas.
Umas das principais constatações quanto a pessoa idosa é a posição negativa ocupada na sociedade atual e as conseqüências na sua rotina diária, ou seja, implicações em cada um dos componentes: social, físico, psicológico e cognitivo. Esta negatividade atribuída ao idoso é conseqüência da compreensão do envelhecimento, isto é, entende se que envelhecer é algo ruim pela sua associação ao desgaste, degeneração, diminuição, entre outros. O envelhecimento não é doença, porém, através de exemplos simples da vida cotidiana, percebe-se que modela a pessoa idosa como um ser doente e frágil.
Problemas psicológicos podem ser desenvolvidos pela constante e massificada afirmação de declínios que devem ocorrer nas funções gerais do organismo e nas mudanças exteriores no corpo. A degeneração é esperada, apesar de as modificações ocorrerem como em qualquer outra fase de vida. O envelhecimento é um processo contínuo natural iniciado desde o primeiro momento de vida (GONÇALVES,1999).
Yazaki, Melo e Ramos (1991) demonstram a situação precária em que se encontram os idosos no Brasil. Nos estados das regiões do norte do país, e ainda mais na região nordeste, a realidade é ainda pior. Os idosos, de uma forma geral, apresentam: “(...) problemas nos principais aspectos de sustentação individual: físico, emocional e principalmente econômico, pelos reflexos que tem sobre os demais aspectos.” (YAZAKI, MELO E RAMOS,1991,82). São pessoas que trabalharam, desde muito cedo em suas vidas, em ocupações não-especializadas, com pouquíssimas possibilidades de ascensão social. O isolamento social é outra característica preponderante na terceira idade, e a família é, na maioria das vezes, a única frente de relacionamento, demonstrando, no seu modo de arranjamento, as dificuldades que o idoso encontra para viver. Estas dificuldades são de origem econômica (não ter condições de pagar aluguel, não ter casa própria ou, ainda, não ter dinheiro suficiente para comprar alimentos ou remédios) e/ou emocional (sentir-se só, ficar viúvo) e/ou física (problemas de saúde que afetam as tarefas básicas de manutenção individual).
O idoso é visto socialmente como um ser carente e marginalizado, seja pela sua modificação física (apontada por toda a sociedade como degeneração e, portanto, negativa) como pela ausência de trabalho e papel produtivo (o que é viável à sociedade capitalista, pois a pessoa ‘vale enquanto trabalha’). As pessoas mais jovens discriminam a pessoa idosa através de diferentes atitudes, como, por exemplo, não querer confrontar opiniões com as do idoso, negando-se a oportunidade de desenvolvimento (BOSI,1983).
Diferentes pesquisadores têm indicado que embora a sociedade avalie negativamente o idoso e convencione um papel social com comportamentos e atitudes prescritos, a maioria dos idosos não se define deste mesmo modo. Esta constatação possível devido ao aumento de pesquisas com esta amostra e pelo aumento de experiência no convívio, como a partir de programas de extensão nas universidades.
A identidade de uma pessoa é formada pelas características próprias adquiridas desde o momento do nascimento e durante todo o ciclo de vida. Para Gonçalves (1999), no entanto, quando a pessoa envelhece (o que ocorre desde o primeiro momento do nascimento) ou atinge os 60-65 anos de idade, convenciona-se afirmar que ocorre uma modificação nas suas características pessoais (aspectos de sua identidade) devido aos anos de vida, e que é normal tornar-se ranzinza, implicante, saudosista. Na realidade, a pessoa conserva a maior parte de sua identidade e realmente algumas características podem ser modificadas pela experiência de vida, e não por um determinante cronológico pessimista.
O fato de, muitas vezes, o idoso ser visto como alguém ‘cansativo’, que repete sempre as mesmas coisas, talvez ocorra porque adquiriu uma certa sabedoria que possibilita a avaliação das coisas de modo mais prático e efetivo, ou seja, uma forma de situar seu papel no grupo social. A manutenção da identidade para a pessoa é básica em todas as etapas da vida, por permitir uma certa continuidade no modo de agir, propiciando o alcance de determinadas metas. A percepção de que o idoso é uma pessoa modificada, devido à idade, reflete o preconceito quanto ao envelhecimento humano, porém as mudanças que ocorrem são no sentido de uma adaptação ao mundo que tende a excluí-lo.
Segundo Sherman e Gold (1979), existe um estereótipo negativo para com os idosos, que inclui características como: visão de doença, de cansaço, de ausência de interesse sexual, de mentalidade lenta, de esquecimento, de menor habilidade para novas aprendizagens, de menor probabilidade de participar em atividades, de ser resmungão, retraído, isolado, improdutivo, defensivo, entre outras (McTavish apud SHERMAN E GOLD, 1979). Alguns dos determinantes das percepções negativas sobre o idoso podem ser evidenciados pela discrepância entre a percepção da terceira idade como é tipicamente e como seria de um modo idealizado. De acordo com Sherman Gold, existem evidências de expectativas claras sobre o que o idoso poderia fazer durante esta fase de vida. Os poucos estudos existentes sobre fases de vida e comportamento adequado não possibilitam identificar (no caso, especificamente, da terceira idade) se esta adequação ocorre porque a maioria dos indivíduos se comportam de tal modo, ou porque o restante da sociedade convenciona este padrão.
O fenômeno da percepção errônea da realidade adaptativa do ‘eu’ é bem conhecido entre os gerontologistas interessados na compreensão da experiência subjetiva de idade entre idosos. Nas últimas duas décadas, estudos empíricos têm consistentemente notado que a maioria das pessoas com mais de 65 anos não se consideram idosas, mesmo que cronologicamente sejam. A percepção errônea da idade é entendida como funcional por capacitar o idoso a pensar e sentir-se mais jovem do que sua idade cronológica e, ultimamente, para experienciar altos níveis de satisfação de vida. Estas percepções podem ser também uma reação para o estigma social e valores negativos vinculados à noção de velho na cultura ocidental.
Os gerontologistas, para compreenderem este fenômeno, têm-se esforçado para identificar as variáveis associadas com a ilusão de uma identidade de meia-idade ou de jovem, entre pessoas com mais de 65 anos (no Brasil, ou melhor, nos países em desenvolvimento, o limite cronológico para a fase da terceira idade é 60 anos, enquanto no países desenvolvidos é 65 anos). De acordo com Rodeheaver e Stohs (1991), Taylor tem percebido a importância da manutenção de certas ilusões sobre o evento e o ‘eu’.
As ilusões são desviadas da realidade, mas não distorcem de forma mal ajustada. São funcionais na medida em que capacitam a reconhecer eventos ameaçadores e manter o otimismo sobre a ameaça real, permitindo aprender a partir da experiência. Taylor enfatiza que os indivíduos os quais se defrontam com doenças ameaçadoras para a vida mudam suas percepções, tanto de aspectos do ‘eu’ diretamente ameaçados pelo evento (a imagem corporal de si), como dos domínios menos centrais para o evento (prioridades pessoais). A mudança nas percepções ocorre em diferentes direções e o modelo de adaptação cognitiva (de Taylor) sugere que as ilusões criadas em domínios menos centrais podem ser adaptativas. A pessoa sente-se capaz naqueles aspectos de sua vida sobre os quais mantém controle e cria a ilusão de um senso generalizado do ato de controlar. Um componente importante desta estratégia é uma comparação descendente seletiva: ao comparar a si com outras pessoas na mesma situação, as quais estão realmente em uma situação pior que a sua, a pessoa mantém sua auto-estima frente à ameaça pessoal (RODEHEAVER E STOHS,1991).
Os estudos sobre auto-estima também permitem analisar a identidade do idoso.
Segundo Coleman, Ivani-Chalian e Robinson (1993), a auto-estima é comumente reconhecida como um importante conceito na compreensão da experiência da terceira idade. Tal fato é admitido particularmente no estudos de coping (estratégias de adaptação) com estresse, incluindo luto, começo de incapacidade (deficiências) e institucionalização (asilos, casas de repouso, hospitais geriátricos). Estas mudanças na vida podem ameaçar o senso de identidade das pessoas pela destruição das bases em que suas vidas estão construídas. Para estes autores, informações recentes têm demonstrado que (ao contrário das expectativas) a auto-estima é marcadamente adaptativa na terceira idade. A continuidade da auto-estima pode ser mais provável do que a sua perda nos processos dinâmicos subjacentes.
Baltes e Baltes (apud COLEMAN, IVANI-CHALIAN E ROBINSON,1993) apresentam três possibilidades de explicações para a estabilidade da auto-estima com o envelhecimento. A primeira é a possibilidade de mudança nos níveis de aspiração das pessoas e, desta forma, as expectativas de vida são ajustadas na terceira idade de acordo com o que se conhece sobre elas. A segunda é que há uma característica de mudança dos grupos de referência com o aumento da idade e, sendo assim, as pessoas tendem a estabelecer comparações, para si, com o que é similar em outras situações. A terceira refere-se a um fenômeno pouco investigado, de múltiplas personalidades ou interesses, e se as pessoas têm várias imagens de quem são, quem foram, quem precisam ser e o que deveriam ser, pode ocorrer facilmente um contato particular de imagem, afirmam Markus e Nurius (citado pelos últimos autores).
Poucos estudos têm sido realizados para examinar diretamente os processos subjacentes da manutenção de auto-estima no tempo. A prova mais substancial refere-se à preservação de auto-estima entre idosos institucionais. Estudos americanos têm salientado o papel adaptativo da reminiscência, garantido pela simplificação, intensificação e obscurecimento das origens entre passado e presente, na preservação da continuidade da percepção do ‘eu’ do indivíduo (de acordo com Tobin apud COLEMAN, IVANI- CHALIAN E ROBINSON,1993). Coleman e colegas realizaram uma investigação longitudinal da auto-estima e suas origens, o ‘Southampton Ageing Study’, e concluíram que existe estabilidade na auto-estima de idosos durante um período longo de tempo (dez anos). No entanto, algumas mudanças são evidentes: enfraquecimento da tendência de fazer somente atribuições positivas, refletidas na diminuição da porcentagem da categoria de alta auto-estima, assim como das mudanças nas bases de origens da auto-estima, em direção à busca de lazer e atividades e ao distanciamento dos interesses de família e trabalho. A perda de papéis formais na organização, nos contatos com a família, amigos antigos e na saúde, são experiências comuns neste estágio de vida. Algumas destas são as perdas mais severas que a pessoa vivencia. Porém, os idosos da amostra demonstram que sucessivamente ‘negociam’ as mudanças para o ajustamento. A porcentagem de idosos com baixa auto-estima permanece baixa durante todo o estudo. As análises conduzidas para investigar as características relacionadas aos indivíduos com auto-estima mais adaptativa são obtidas a partir das variáveis relativas ao nível inicial de atividade. A quantidade de lazer e de interesses, de diferentes tipos de jornadas fora de casa e de percepção de si próprio como uma pessoa ativa são significativamente relacionadas à manutenção da auto-estima durante os dez anos. Tanto a importância aumentada de atividades de interesse, como a origem identificada de auto-estima e o valor preditivo de envolvimento em vários tipos de atividades, confirmam a necessidade de uma grande promoção de atividades de lazer para idosos.
Bromley (1990) tem a mesma opinião que Coleman, Ivani-Chalian e Robinson sobre a identidade do indivíduo idoso, ou seja, para ambos existe uma adaptação para as mudanças que ocorrem na vida. Bromley define o autoconceito como a impressão que a pessoa tem sobre si própria, a qual tem um conteúdo manifesto, formado pelas idéias e sentimentos explícitos, e um conteúdo latente, com suposições e sentimentos inconscientes que influenciam o comportamento. O autoconceito modifica-se de forma adaptativa durante a vida adulta e no envelhecimento, particularmente em resposta às demandas do mundo social e às demandas internas, podendo adquirir consistência e desempenho, e permitindo a resolução de conflitos e a continuidade.
Perlmutter e Hall (1992) reforçam a falsidade do estereótipo negativo referente aos idosos, especialmente quanto à instabilidade (esperada) da sua identidade. Porém, demonstram como este pode afetar a vida das pessoas que envelhecem, tanto que algumas diminuem suas atividades ou tornam-se menos extrovertidas. Hans Thomae (citado pelas autoras) coleciona os estereótipos sobre pessoas idosas nos Estados Unidos e na Alemanha, que são caracterizados negativamente como incompetentes, dependentes, passivos e inflexíveis. Estes estereótipos são supergeneralizações para casos específicos e isolados, ou seja, não refletem a realidade da maioria dos idosos. A perda de papel que isola os idosos na sociedade pode afetar a imagem do envelhecimento, a qual é fortemente influenciada pelos estereótipos divulgados na mídia. O próprio estereótipo cria um papel para os idosos impelindo-os a assumirem este ‘papel de velho’ na sociedade. Uma demonstração desta imagem negativa pode ser dada pelo estudo de Ward (apud STUART-HAMILTON,1994), o qual salienta que somente 20% das pessoas na faixa etária dos 60 anos e 51% na faixa etária dos 70 anos admitem serem ‘velhos’. Thompson (1992) no seu estudo clássico ´I don´t feel old´ discute este aspecto.
As pesquisas de estabilidade ou mudança de personalidade permitem afirmar que não parece existir uma causa plausível para a caracterização atual negativa da pessoa na terceira idade. Mesmo assumindo que a estabilidade é um fator constante durante os períodos de vida ou que existam mudanças, as características não se encaminham para o pior. Ao contrário, dirigem-se para o aperfeiçoamento da pessoa, baseado na experiência dos anos de vida. A caracterização negativa da pessoa idosa é uma falsidade injustificada e os estudos sobre identidade, auto-estima e personalidade permitem contradizer o estereótipo formulado do idoso.
Intervenções com pessoas idosas têm permitido verificar que os idosos procuram reverter a situação de preconceito (consciente ou inconscientemente), vislumbrando uma visão do envelhecer positiva, ou como alguns autores tem chamado: viver no eterno momento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1983.
BROMLEY, D.B. Behavioural Gerontology: central issues in the Psychology of Ageing. England-
Chichester: John Wiley & Sons, 1990.
COLEMAN, P.G.; IVANI-CHALIAN, C.; ROBINSON, M. Self-Esteem and its sources: stability and
change in later life. Ageing and Society, n.13, p.171-192, june, 1993.
GONÇALVES, A.K. Ser idoso no mundo: o indivíduo idoso e a vivência de atividades físicas como meio de afirmação e identidade social. São Paulo, 1999. 214p. Tese (Doutorado) - Instituto de Psicologia,
Universidade de São Paulo, 1999.
PERLMUTTER, M.; HALL, E. Adult development and aging. New York: John Wiley & Sons, 1992.
RODEHEAVER, D.; STOHS, J. The adaptative misperception of age in older women: sociocultural
images and psychological mechanisms of control. Educational Gerontology, n.2, v.17, p.141-156, march/april, 1991.
SHERMAN, N.C.; GOLD, J.A. Perceptions of ideal and typical middle and old age. The International
Journal of Aging & Development, n.1, v.9, p.67-73, 1978/1979.
STUART-HAMILTON, I. The psychology of ageing: an introduction. London: Jessica Kingsley
Publishers, 1994.
THOMPSON, P. ‘I don’t feel old’: subjective ageing and the search for meaning in later life. Ageing and
Society, v.12, p.23-47, march, 1992.
YAZAKI, L.; MELO A.V.; RAMOS, L.R. Perspectivas atuais do papel da família ao envelhecimento populacional: um estudo de caso. Informe Demográfico, n.24, v.11, p.11-96, 1991.
Objetivo
Além disso, analisar o outro lado, ou seja, como a modernidade encara esse legado que os idosos podem proporcionar para nós e como podemos utilizar esse legado para construir ou desconstruir novas culturas e identidades.